Ao fim de vinte e três dias de túneis já a paciência dos mais calmos se esgotou.Os mantimentos começam a escassear e a saber a ranço.
Não vou relatar aqui o que aconteceu nestes dias todos. Mas basta imaginar que tanto tempo confinados a um espaço exíguo, agonizante e quieto não podiam eles estar descontraídos. O espírito de equipa já se foi há muito, nem mesmo as qualidades de gestão do vazio de Javier ou a liderança irrepreensível do Cigano chegaram para manter a ordem e a calma naquele grupo. Nada aconteceu de interessante, apenas, quanto mais passava o tempo mais eles se detestavam.
O Cigano quebrou o seu jejum verbal:
– Devemos estar perto de alguma coisa. A configuração dos túneis mudou.
– Como assim? Perguntou a Catarina.
– O ângulo das bifurcações dos túneis alargou ligeiramente.
– Catarina olhou para trás na direcção das galerias percorridas. - Como é que sabes? Mediste os ângulos lá atrás?
– Não! Mas tenho essa sensação.
– A mim parece tudo igual.
– E o que é que vos faz pensar que estamos a andar em túneis?
Este aqui foi um individuo franzino chamado Darrel Bubb.
Com um ar de enfado e de fracasso nas caras, aquele ar de porque-no-te-callas, todos pararam e olharam-no calados. Surpreendentemente educada, num tom coloquial, Manu respondeu:
– Então! Entrámos numa montanha, estamos no seu interior, o ar está parado, quase morto e eu não aguento isto.
– Pois. Mas imaginem agora que já saímos do interior da montanha e nem reparámos.
– Retiro o que disse. Afinal tu é que estás morto. Pelo menos o teu cérebro já não está bom. Estamos rodeamos de paredes no meio do nada. Nada! Sabes o que é? Isto é Nada.
Logo a seguir, Manu seguiu em frente em passo rápido, deixando para trás todos os outros que continuaram parados agora entre Darrel Bubb e Manu. Um à retaguarda e a outra lá à frente berrando ainda o "Nada" de há pouco. Darrel Bubb deixou-a desaparecer no escuro esperando ainda que o "Nada" se diluísse no breu.
– Continuando... imaginem que já saímos da montanha mas para um sítio onde não há nada (aproveitando a deixa da ressabiada da Manu), nem coisas nem luz para as inundar.
– Puta de sorte!
– Mas nada mudou desde que entrámos aqui. Continuamos confinados por paredes não é?
– Sim. E o tecto? já confirmaram se há tecto? Alguém trepou lá acima?...
yesterday I woke up sucking a lemon
Não vou relatar aqui o que aconteceu nestes dias todos. Mas basta imaginar que tanto tempo confinados a um espaço exíguo, agonizante e quieto não podiam eles estar descontraídos. O espírito de equipa já se foi há muito, nem mesmo as qualidades de gestão do vazio de Javier ou a liderança irrepreensível do Cigano chegaram para manter a ordem e a calma naquele grupo. Nada aconteceu de interessante, apenas, quanto mais passava o tempo mais eles se detestavam.
O Cigano quebrou o seu jejum verbal:
– Devemos estar perto de alguma coisa. A configuração dos túneis mudou.
– Como assim? Perguntou a Catarina.
– O ângulo das bifurcações dos túneis alargou ligeiramente.
– Catarina olhou para trás na direcção das galerias percorridas. - Como é que sabes? Mediste os ângulos lá atrás?
– Não! Mas tenho essa sensação.
– A mim parece tudo igual.
– E o que é que vos faz pensar que estamos a andar em túneis?
Este aqui foi um individuo franzino chamado Darrel Bubb.
Com um ar de enfado e de fracasso nas caras, aquele ar de porque-no-te-callas, todos pararam e olharam-no calados. Surpreendentemente educada, num tom coloquial, Manu respondeu:
– Então! Entrámos numa montanha, estamos no seu interior, o ar está parado, quase morto e eu não aguento isto.
– Pois. Mas imaginem agora que já saímos do interior da montanha e nem reparámos.
– Retiro o que disse. Afinal tu é que estás morto. Pelo menos o teu cérebro já não está bom. Estamos rodeamos de paredes no meio do nada. Nada! Sabes o que é? Isto é Nada.
Logo a seguir, Manu seguiu em frente em passo rápido, deixando para trás todos os outros que continuaram parados agora entre Darrel Bubb e Manu. Um à retaguarda e a outra lá à frente berrando ainda o "Nada" de há pouco. Darrel Bubb deixou-a desaparecer no escuro esperando ainda que o "Nada" se diluísse no breu.
– Continuando... imaginem que já saímos da montanha mas para um sítio onde não há nada (aproveitando a deixa da ressabiada da Manu), nem coisas nem luz para as inundar.
– Puta de sorte!
– Mas nada mudou desde que entrámos aqui. Continuamos confinados por paredes não é?
– Sim. E o tecto? já confirmaram se há tecto? Alguém trepou lá acima?...
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