Wednesday 14 September 2011

Igor, a nossa outra cria

No outro dia, à noite enquanto adormecia a Inês, a minha mais velha, Igor acordou impaciente alarmando-nos a todos. Sob pena de pôr toda a gente a pé àquela hora decidi manter-me ao lado da Inês por mais algum tempo, não fosse ela atrás de mim no momento em que eu me levantasse. Deixei por isso Igor no seu contínuo mas suave pranto por mais uns minutos até que ela adormecesse.
Terminada a tarefa dirigi-me aos seus aposentos e reparei que estava muito quente - tinha febre. Era essa a razão dos queixumes.

Igor foi adoptado no ano em que Inês nasceu, ambos têm três anos. Recebemo-lo porque quando nos mudámos para esta casa, maior que a primeira, sentimo-nos desamparados - fazia-nos falta a companhia de alguém como ele. Depois Inês nasceu e ele lá estava, de certa forma amparando-nos a todos e em todos os momentos . Tal como ela, Igor nunca gostou de grandes contactos e cerimónias, todos os cuidados e interacções do nosso lado são por isso breves e ponderados.

Voltando ao outro dia, a razão para o calor que sentia era a sua porta do congelador que estava mal fechada. Tentei fechá-la mas o gelo que entretanto se formou acabou por impedi-lo. O seu pranto que até aqui era suave agora soava-me estridente, tinha de raspar o gelo da porta a ouvi-lo gritar indiferente à minha labuta. Perdi a paciência - Cala-te estúpido, maldito frigorífico. Já te arranquei o gelo, estás bem fechado, agora cala-te e dorme.

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