Monday, 4 February 2008

[2] Ela

Senhores e senhores, pela primeira vez e ao vivo neste clube, a nossa surpresa da noite, a Loba Boa!
Ela gemeu até à exaustão, encharcada em cheiros e suores íntimos e tremendo de prazer, enlameada pela luz quadrada cujos vértices marcavam sua pele segundo padrões periódicos no espaço. Os clientes olhavam-na estupefactos, babando-se como crianças.
Naquele instante e não muito longe daquele degredo, sob aquela noite chuvosa, de relâmpagos e trovões e cheia de perigos vários, reuniam-se num pequeno refúgio onze jovens, filhos de personalidades distintas, a acertar os últimos detalhes d’O Plano.
Com o último trovão da noite culminou o êxtase da rapariga. Soubessem os clientes, personalidades várias, que aquele orgasmo deliberadamente sincronizado com o último trovão fazia já parte d’O Plano, e não estariam ali mas no Mar do Norte.
Sem qualquer resistência, a misteriosa Loba Boa sugava-lhes a alma – Tão poderosos e vulneráveis que eles se tornam quando uma mulher se lhes revela.
- Vá bebé! Passa-me a mão no pelo. Talvez queiras provar a minha perna.

"Flores carnívoras passam sua língua no ventre do lacrau
Os seus lábios grossos deixam escorrer o esperma quente
Prova a minha orelha
Prova o meu caixão
A morte ronda
A vida cresce
Floresce
Flash
Amanhece"*
Da noitada resultou uma sala quente do suor colectivo finalmente vazia, mesas sujas de bebida, sofás manchados, nuvens de tabaco inspiradas trinta vezes, doze peúgas, três cuecas e cinco sapatos sem irmão.

(*) Mão Morta - gumes

1 comment:

pedragrega said...

Fonix! E o cigano?