Existem duas palavras semelhantes mas que para mim contêm
sentidos diferentes. São elas lento e devagar. Metaforicamente falando, lento é
sinónimo de aborrecido e não volto a referi-la aqui. Já "vagar",
"devagar" ou "com vagar" soa-me a algo mais ponderado,
próximo da terra, do sol e do calor.
Sempre que me lembro destas palavras, ocorre-me uma
paisagem imaginada que me chega dos confins da minha infância – é uma tarde de
maio quente, um maio verde lima e amarelo com moinhos de vento ainda sem panos das velas, só moinhos. Também há nuvens claras
e ténues no céu azul onde habita uma musica de fundo em ré maior.
Só para dizer que o vagar está para mim muito associado
ao espaço físico com as suas paisagens amplas e à sua contemplação enquanto
pequeno ser na sua imensidão.
Nos tempos que correm (correm, lá está) o vagar é um luxo
exagerado chegando a roçar a heresia perante as leis da física mundana e da logística. Não há tempo para
gastar em todo o nada que alguns de nós necessitamos. Aqui o nada torna-se em
tudo quando por exemplo paramos num sítio para o apreciar que nem entendedores
de arte, quando acordamos numa manhã chuvosa de inverno e ainda de pijama
abrimos a janela do quarto para respirar a frescura dos elementos e esticar a
cabeça até sentirmos o nariz molhado, quando temos a capacidade de gerar
silêncio sem sentirmos vertigens…
É no fundo sentirmos que realmente existimos.
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