Sunday 11 April 2010

O cubo de rubik

O homem estava sentado ao volante do carro estacionado no miradouro às voltas com um cubo de rubik. Olhava para ele, a face amarela estava resolvida mas as restantes mantinham-se caóticas. Do outro lado da estrada, descendo uma calçada nova de pedras amarelas, vinham dois homens conversando ruidosamente. Ó chefe, aquele carro ali é seu? perguntaram-me num tom irónico. Subi a calçada até ao cimo. A partir dali o caminho era a descer, não havia mais calçada, apenas um carreiro íngreme e acidentado.
Olhei para baixo e lá estava um audi vermelho parado no meio de uma leira, um quelho entre penedos e giestas, um sítio ermo que a custo um carro de bois lá chegaria.
Como é que ali foi parar? O caminho até lá é sinuoso e lâminas de seixo insinuam-se por toda a parte, mas o carro lá estava, intacto e refulgente entre pedaços de verde e de penedos, apesar de tudo, como se repousasse numa serena entrada de uma acolhedora moradia.
Voltei para trás pelo mesmo caminho mas, para meu espanto, a calçada nova de pedras amarelas já não existia - só pedras apenas, os mesmos seixos brancos plantados por entre as giestas.
Por favor, gritei aos dois homens (um deles com um chapéu mais pequeno que a sua cabeça), não estava aqui uma calçada amarela? Ainda há pouco passei a percorri...
Eles riram-se para mim (ou de mim, naquele estilo de quem goza um forasteiro). Estava, estava! Mas se calhar o Toni mudou-a de sitio. Deve estar outra vez a brincar com a freguesia. Espere um pouco e volte a tentar depois, talvez isso melhore.
Com efeito, passados uns minutos, estava agora o audi vermelho perfeitamente enquadrado com outro cenário mas desta vez bem mais próprio - uma moradia de telhados vermelhos também.
Voltei por outro caminho ao miradouro, passei pelo homem que estava sentado ao volante do carro estacionado do miradouro - lá continuava às voltas com o cubo de rubik. A face vermelha estava agora resolvida mas todas as restantes mantinham-se caóticas.

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