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A Manu seria o oposto do que ele quereria numa mulher. Contudo, assumindo que os sonhos são desejos complexos que se escondem bem dentro da cabeça, este último não passou despercebido. Depois de acordar, teve aquela sensação intensa como se tivesse de facto vivido aqueles momentos. Ela estava lá, acompanhada de uma amiga, enfim alguém que não o interessava e que por via das circunstâncias e para justificar uma proximidade menos formal, teve de a cumprimentar com dois beijos. Tudo para a seguir justificar um beijo na Manu. Tudo indicava que ela estava de volta, implacável como sempre mas com um ligeiro ar de redenção. Olá! Disse ele. Há quanto tempo (esboçando um sorriso de circunstância para a amiga dela). Voltou-se para a Manu. Quando chegaste? Estou cá desde ontem. Que saudades cara amiga (cara amiga minha alma, anjo meu - pensou). Entretanto, a amiga da Manu afastou-se para cumprimentar alguém que passou dando finalmente azo a que a anterior formalidade descambasse desmazeladamente para os seus passados que várias vezes se cruzaram sem no entanto culminarem da melhor forma – pelo menos para Javier. Apenas insinuações.

Tenho pensado muito em ti Javier. Javier já estava taquicárdico ainda ela não tinha chegado ao fim da frase. E permaneceu calado, engasgado com um nó na garganta, nó esse providencial já que se não o tivesse naquela altura, o seu coração seria expelido para o exterior. Pensando melhor, dada a previsibilidade desta conversa, tal reacção foi disparatada. Há muito tempo que ambos esperavam por este momento, sem ninguém a ouvir ou a observar (a amiga da Manu já ali não estava).

Viram-se de repente sentados à mesa de uma esplanada a olhar um para o outro. Ela continuou. Sabes, sinto falta dos nossos velhos tempos, das manhãs de sol. Tenho andado especialmente triste com a vida e estar contigo e falar contigo faz-me sorrir e…O nosso amigo, gosto muito dele, é espectacular mas às vezes, sabes, tenho necessidade de pisar o risco – não vejo mal nenhum nisto e ele sabe como eu sou. Continuo a respeitá-lo mas assumo que se tiver oportunidade sou capaz de o trair… depois volto para os seus braços.

É óbvio que ela se está a insinuar para uma aventura. Até gostava… mas não sei – pensou. Porquê agora e não quando era eu a insinuar-me? Quanto à revelação da sua tendência para a promiscuidade não sei qual o verdadeiro motivo. Duas razões ocorreram: A primeira, ela deseja que naquele momento caia nos seus lábios e a leve dali. A segunda, bem, talvez me esteja a avisar para os riscos de um envolvimento bem ao estilo da Manu.

Float away here with me
An evening just wait and see
But tomorrow go back to your man
I'm back to my world
And we're back to being friends
Wait and see me,
Tonight let's do this thing
All we are is wasting hours until the sun comes up it's all ours
On our way here
Tomorrow go back to being friends

Acordou. Afinal tudo isto não passou de mais um sonho parvo mas a verdade é que a a presença da Manu era mais do que uma mera imagem. Sentou-se por minutos, a ruminar nas últimas imagens.
-Até nos sonhos a gaja é uma cabra!
Levantou-se e desapareceu no escuro das cavernas.